Educação

Existe diversidade no currículo?

Segundo a autora Nilma Gomes, pedagoga, a diversidade se trata da construção histórica, cultural e social das diferenças. Ela indica que diferença é muito mais do que aquilo observável a olho nu, mas são construções ao longo da história da humanidade vinculadas às relações de poder. Ou seja, nos vemos diferentes porque “aprendemos” a nos ver dessa forma.

 

No âmbito educacional, de fato a diversidade pode ser vista a partir dos diferentes grupos que o compõe, mas questões relacionadas a poder podem dificultar as coisas. Em toda cultura, há a glamourização de certos grupos em detrimento de outros e isso, claramente, reflete-se totalmente nas escolas. Logo, o “diferente” é visto como menor e menos importante na tarefa de se ensinar.

 

A autora também indaga em seu texto “Diversidade e currículo” sobre o tipo de diversidade que se quer abordar nos currículos. Nesse sentido, ela se lança a tratar sobre cada tipo de diversidade existente e sua relação com o currículo: diversidade biológica e cultural.

 

A variedade de seres vivos é chamada de diversidade biológica ou biodiversidade. Sobre tal diversidade, Gomes enfatiza:

Os seres humanos, enquanto seres vivos, apresentam diversidade biológica, ou seja, mostram diferenças entre si. No entanto, ao longo do processo histórico e cultural e no contexto das relações de poder estabelecidas entre os diferentes grupos humanos, algumas dessas variabilidades do gênero humano receberam leituras estereotipadas e preconceituosas, passaram a ser exploradas e tratadas de forma desigual e discriminatória. (Gomes, pg. 20)

 

Esta diversidade também está relacionada com a forma como a humanidade se relaciona com a natureza, pois isso nos envolve e nos afeta completamente. É importante pensar como a diversidade biológica é trabalhada nos currículos.

 

Sobre a diversidade cultural, embora sejamos semelhantes quanto ao gênero humano, nos distanciamos a partir das nossas formações culturais. O grande desafio seria aprender a viver em sociedade e não hierarquizar as culturas. Essa questão está totalmente vinculada à formação identitária, pois nenhuma identidade se faz sozinha. Somos quem somos porque existe o outro. Ou seja, nossa identidade se forma a partir do diálogo em sociedade.

 

Nesse contexto, é importante pensar que a diversidade trabalhada no currículo advém de lutas sociais travadas historicamente por grupos minoritários, como negros, mulheres e homossexuais, que reivindicam maior representatividade na sociedade, desmistificando a ideia de inferioridade. O currículo não é apenas uma listagem de conteúdos a serem passados, mas também um instrumento mantenedor das relações de poder vigentes. Logo, não basta apenas abordar as diversidades no currículo, é preciso as entender como parte das diferentes áreas de conhecimento.

REFERÊNCIA:

GOMES, N. L. Indagações sobre currículodiversidade e currículo. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2007.

Maycon Miliorini